Quando me propus a escrever sobre esse tema senti um aperto no peito. Foram tantos anos de inflação altíssima que creio que minha geração e todos os "economicamente adultos" na época não querem nem mais falar no tema. Esquecemos que tínhamos que correr para o supermercado logo após recebermos o pagamento na tentativa de evitar 5 a 10% de perda do seu poder de compra em uma semana. Raramente lembramos do salvador "overnight", nossa aplicação financeira que fazia as vezes de indexador automático de conta-corrente e que ajudava a manter o valor do dinheiro um pouco mais, evitando que faltasse mês no final do salário, como costumávamos dizer.
Puxando pela memória, lembro que nos últimos tempos de inflação alta (altíssima, melhor dizendo) já tratávamos os preços em dólares. Simplesmente era impossível manter qualquer comparabilidade trabalhando com o dinheiro da época. Afinal, qual era o nome desse dinheiro mesmo? Convivi com 7 moedas diferentes: cruzeiro, cruzeiro novo, cruzeiro mais uma vez, cruzado, cruzado novo, cruzeiro real (tinha esquecido desse) e, finalmente o real. Só perdi duas: o real do período colonial e mil réis, em vigor até 1942.
Apesar de ter conhecido 7 moedas diferentes, não sou tão velho assim. É que a moda de trocar o nome da moeda e, de quebra, cortar-lhe uns três zeros, pegou firme a partir dos ano 1970. Entre 1986 e 1994 tivemos 5 moedas diferentes. Cinco!
Esse longo perído de convivência com a inflação, coincidente com um período de formação econômica nacional, me faz levantar uma hipótese:
- A loucura inflacionária que vivemos e a ênfase no curto prazo impediu que duas ou três gerações de empresários e administradores brasileiros pudessem desenvolver o gosto e a técnica de planejar.
No varejo a ânsia por comprar rápido e bem (na tabela de preços velha), além da busca pelo preço baixo inibiam discussões mais estratégicas. O mercado era comprador - se o cliente não levasse o televisor hoje, amanhã pagaria até 30% mais por ele. Nesse contexto não se discutia qualidade de atendimento, motivação da equipe, estratégias de marketing outros tópicos mais elevados.
Como estávamos numa fase de formação econômica, penso que isso marcou o estilo gerencial brasileiro. Diria que estamos muito mais para FAZEJAMENTO do que para PLANEJAMENTO. Valorizamos quem age, não quem pensa antes de agir. Fazer conta para quê? Planta para tocar reforma? Imagina...derrube primeiro as paredes que depois a gente decide qual o layout a seguir... Contrate, depois a gente arruma alguma coisa para ele fazer...
Se quisermos entrar num outro nível de desenvolvimento e competitividade devemos abandonar essas velhas práticas, valorizar a discussão e troca de idéias, discutir cenários alternativos, registrar os planos, fazer contas e simulações, enfim praticar o planejar. Cobrar resultados objetivamente também não fará mal a ninguém.
Como diz uma amiga: "se continuarmos a fazer as coisas sempre do mesmo jeito, continuaremos colhendo sempre os mesmos resultados". Complementar a essa frase, cito o Barão de Itararé: "de onde menos se espera é que não sai nada mesmo".
O quadro a seguir é para matar saudades...
Fontes: IPEA e http://www.ai.com.br/pessoal/indices/moeda.htm
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